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- mtsconsultingbr
- 25 de ago.
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introdução
“Leva-se vinte anos para construir uma reputação e cinco minutos para destruí-la.” — Warren Buffett
No campo da gestão pública, esta frase ganha contornos ainda mais dramáticos. Obras públicas, políticas de Estado, confiança institucional, legitimidade democrática — todos esses elementos levam tempo, esforço, articulação e recursos para serem edificados. No entanto, uma única decisão errada, uma negligência, uma omissão ética, ou um escândalo pode implodir tudo de forma imediata e irreversível.
Este capítulo investiga essa assimetria temporal e moral entre o construir e o destruir, ancorando-se em conceitos da filosofia (Nietzsche, Arendt, Camus e Sócrates), obras contemporâneas como "A Sociedade do Cansaço" (Byung-Chul Han), e nos fundamentos da boa governança pública.
1. O Tempo da Construção: Lento, Ético, Político
1.1 A Política como Obra Humana Durável (Hannah Arendt)Em A Condição Humana, Arendt descreve a “ação” como a forma mais elevada da atividade humana — aquela que se dá entre os homens, no espaço público, onde se revela a pluralidade e a imprevisibilidade. A construção institucional no setor público é uma forma dessa ação: exige pactos, compromissos, visão de longo prazo e respeito pelo espaço do outro. É durável porque se ancora em processos, consensos e instituições.
1.2 Governança como Arte da PerseverançaConstruir políticas públicas eficazes exige planejamento estratégico, participação cidadã, escuta ativa e articulação entre múltiplos atores. Trata-se de um processo coletivo e incremental, que deve respeitar os tempos institucionais, as etapas legais e os marcos regulatórios. É uma construção sedimentar, como os tijolos de uma catedral gótica: cada geração contribui com uma parte.
2. O Tempo da Destruição: Rápido, Cínico, Irresponsável
2.1 Nietzsche e o Espírito Destrutivo como Inércia MoralNietzsche nos alerta que destruir é mais fácil porque exige menos responsabilidade e reflexão. A crítica niilista, quando desprovida de propósito criador, degenera em cinismo. No serviço público, vemos isso quando gestores desmontam políticas públicas consolidadas por mera disputa ideológica ou quando sucateiam instituições por omissão ou vaidade.
2.2 A Banalidade da Destruição (paráfrase de Arendt)A destruição institucional muitas vezes não é feita por monstros, mas por tecnocratas ou políticos que seguem ordens, ignoram consequências ou se deixam levar pela inércia ou pelo oportunismo. Arendt, ao estudar Eichmann, mostra que a ausência de pensamento é o maior perigo da burocracia. No setor público, a destruição pode vir da indiferença e da omissão — o que também é decisão.
3. Assimetria Temporal e Moral entre Construir e Destruir
3.1 O Efeito da Entropia Social e InstitucionalA segunda lei da termodinâmica — a entropia — pode ser lida metaforicamente nas instituições: sistemas tendem à desorganização quando não há manutenção, vigilância e atualização constante. Isso é visível na gestão pública quando planos são abandonados, equipes desmobilizadas e lideranças despreparadas assumem postos críticos.
3.2 A Ilusão da Eficiência Instantânea (Byung-Chul Han)Em A Sociedade do Cansaço, Han critica o culto contemporâneo à performance e à velocidade. No serviço público, isso se traduz em tentativas de “resolver tudo de imediato” com tecnologia, desburocratização artificial ou rupturas abruptas que desconsideram a complexidade dos processos. Destruir um modelo funcional em nome da "modernização" pode ser mais populismo do que progresso.
4. A Responsabilidade do Legado e a Ética da Longevidade
4.1 Camus e o Homem em RebeliãoEm O Homem Revoltado, Camus aponta que o verdadeiro rebelde é aquele que diz “não” ao absurdo, mas também afirma um “sim” à dignidade. Na gestão pública, o bom gestor não se contenta em herdar o caos nem se permite transmiti-lo. Ele é um artesão de legados, mesmo que não colha os frutos da árvore que planta.
4.2 Sócrates e a Consciência do Não SaberO reconhecimento socrático da ignorância é o ponto de partida para a prudência política. Governantes e gestores públicos deveriam assumir menos certezas absolutas e se guiar mais pelo espírito do inacabado, do dialógico, da escuta. A construção de políticas públicas duráveis exige humildade epistemológica.
5. Conclusão: O Tempo como Métrica Ética da Governança
Construir é lento porque requer responsabilidade, coordenação, escuta e continuidade. Destruir é rápido porque só exige ignorância, negligência ou malícia. O verdadeiro teste ético e político de uma liderança pública é o que ela decide fazer com o tempo que tem: se vai plantá-lo ou queimá-lo.
Como diria um velho provérbio chinês:
"O melhor momento para plantar uma árvore foi há vinte anos. O segundo melhor é agora."
Portanto, enquanto o cinismo destrói em segundos o que levou décadas para ser erguido, a verdadeira liderança pública se mede pela sua capacidade de preservar o que funciona, aprimorar o que é necessário e resistir à tentação da destruição fácil disfarçada de inovação.
Referências Bibliográficas
Arendt, H. (1958). A Condição Humana.
Nietzsche, F. (1887). Genealogia da Moral.
Camus, A. (1951). O Homem Revoltado.
Byung-Chul Han (2010). A Sociedade do Cansaço.
Sócrates (através de Platão). Apologia de Sócrates.
Warren Buffett. Entrevistas e cartas anuais aos acionistas.

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